Blogue no âmbito da área curricular não disciplinar Área de Projecto, construído pelas alunas Ana Rita Vieira, Liliana Ramalho, Tânia Figueiredo e Vanessa Martins do 12º C da Escola Secundária c/ 3º ciclo de Albergaria-a-Velha.



3 de dezembro de 2010

Uso simultâneo de remédios convencionais e fitoterápicos traz riscos à saúde

A sabedoria popular oferece receita milagrosa para tudo. Para cada caso - dor de cabeça, inflamação na garganta, prisão de ventre -, um chá é recomendado. Eles parecem inofensivos, mas os especialistas alertam: é preciso tomar cuidado com essas fórmulas. As plantas medicinais possuem princípios ativos que podem ser prejudiciais à saúde quando combinados com certos remédios. Em casos extremos, podem levar pacientes à morte. As reações dependem de que parte da planta é utilizada na receita, da temperatura e da concentração do chá, dos componentes do medicamento e do estágio da doença. Para evitar sustos, os pacientes devem informar o consumo das soluções caseiras ao médico desde a primeira consulta.

O problema é que esse não é um hábito muito comum entre os pacientes. A farmacêutica Ivane Graciano constatou que 149 diabéticos, cardíacos e hipertensos da terceira idade utilizam plantas medicinais e não avisam o médico. A conclusão está na dissertação de mestrado Prevalência do uso de fitoterapia em pacientes do Programa de Geriatria do Hospital Universitário de Brasília. A pesquisadora entrevistou 180 idosos e revelou no estudo que os principais efeitos causados pela combinação entre as receitas caseiras e os fármacos são intoxicação, envelhecimento acelerado, alteração das características e dos efeitos dos medicamentos.
Ivane exemplifica, "Os diabéticos tomam remédios para diminuir a quantidade de açúcar no sangue. Se eles tomarem o chá conhecido como pata-de-vaca - popularmente "receitado" para a doença -, sentirão fome e tremedeira porque a planta provoca queda ainda maior na taxa de açúcar do sangue. Caso mais grave seria a combinação da varfarina, princípio ativo presente na aspirina, com chá de boldo, utilizado "para tornar mais ralo o sangue". Em vez de aumentar a coagulação, a mistura colocaria o paciente em risco de ter uma hemorragia.

Consciência

" As pessoas precisam adquirir uma nova postura e parar de acreditar que se algo não faz bem, mal não pode fazer" , afirma Ivane. Descobrir que os pacientes substituíam o uso do medicamento pela planta era o maior receio da pesquisadora. Ela descobriu que eles não abandonam os remédios convencionais, mas todos os 180 entrevistados mantém a combinação. Eles alegam que se sentem mais dispostos assim. A pesquisa mostrou ainda que apenas 52 dos entrevistados acreditam na cura pela fitoterapia. A procura por intervenções terapêuticas é um hábito passado a cada geração e de fácil acesso, pois as plantas podem ser compradas no supermercado ou colhidas no quintal.
Luzia Tolentino, 64 anos, tem problemas de labirintite, pressão, colesterol, artrose e hérnia. A senhora toma os remédios gincobiloba, propranol e forasemida e bebe chá de camomila à noite. "É ótimo para relaxar e dormir, mas pela manhã fico sonolenta e isso afeta o meu trabalho" , explica. Segundo Ivane, a combinação de calmantes sintéticos e naturais não é perigosa, mas deveria ser feita com menos frequência. " Ela sente essa moleza porque todos os componentes ajudam a diminuir a pressão" , afirma a farmacêutica.
Em geral, quem utiliza a fitoterapia desconhece a procedência e não sabe qual parte da planta pode ser consumida com segurança. "É preciso ter cuidado. Os nomes mudam em cada região e o pedaço utilizado para terapia pode ser tóxico" , alerta Ivane. Francisco Ferreira, 73 anos, bebe um composto de picão-de-rama com água que ele mesmo bate no liquidificador. A planta foi indicada por um conhecido de Goiânia. Dulce Soares, 64 anos, por sua vez, fornece boblobló aos vizinhos que sofrem de dor de cabeça.
A pesquisadora também responsabiliza os profissionais da saúde pela falta de informação dos pacientes. Para Ivane, médicos e enfermeiros deveriam perguntar sobre os tratamentos alternativos no primeiro contato com eles. " As plantas medicinais são pouco estudadas na faculdade e não contam com uma disciplina específica que aborde as interações" , alega.

Fonte: http://www.isaude.