Blogue no âmbito da área curricular não disciplinar Área de Projecto, construído pelas alunas Ana Rita Vieira, Liliana Ramalho, Tânia Figueiredo e Vanessa Martins do 12º C da Escola Secundária c/ 3º ciclo de Albergaria-a-Velha.



22 de novembro de 2010

Da planta ao medicamento

No século I d.C., o médico e botânico grego Dioscórides escreveu uma obra que abrangia todos os remédios que a natureza oferece, com particular insistência nas plantas medicinais (descrevem-se cerca de 600). Os seus discípulos foram-na ampliando depois, até atingir seis volumes. Esta extraordinária obra, conhecida como Matéria Médica de Dioscórides, foi o livro de texto básico para todos os médicos ocidentais durante mais de 1700 anos. Servia como receituário, no qual se consultavam as plantas e remédios úteis para cada doença.
Com o progresso da química e o surgimento da farmacologia, a partir do século XVIII, os médicos foram sibstituindo a pouco e pouco as suas receitas à base de plantas, baseadas em Dioscórides, por prescrições à base de produtos químicos extraídos de plantas.

Em 1803, um jovem farmacêutico alemão, Serturner, isolou um alcalóide a partir do ópio da dormideira, a que chamou morfina, recorrendo o nome de Morfeu, deus grego do sono.
Em 1817, isolou-se o princípio activo da ipecacuanha, a emetina.
O químico alemão Hoffmann obteve a aspirina a partir da casca do salgueiro, em meados do século XIX.
Em 1920, os farmacêuticos franceses Pelletier e Caventou isolaram a quinina a partir da árvore da quina.
Descobertos e isolados os princípios activos das plantas, pensou-se que com eles se podiam substituir as velhas receitas à base de plantas. As substâncias puras eram mais potentes, fáceis de dosificar e a sua administração em forma de cápsula, comprimido ou outra, tornava-se mais cómoda. Os êxitos da química farmacêutica fizeram esquecer até à poucos anos os remédios naturais, ou seja as plantas medicinais tal como a natureza as oferece.(...)
Ao contrário do que a princípio parecia, os cada vez mais potentes antibióticos sintéticos não foram capazes de acabar por completo com as doenças infecciosas. (...) É certo que, graças a eles, se têm salvado muitíssimas vidas, mas também é certo que aumentaram enormemente as resistências, alergias e outros efeitos indesejáveis. Os potentes corticóides e fármacos anti-inflamatórios podem resolver um caso agudo, mas mostram-se inadequados nos casos crónicos, como por exemplo as doeças reumáticas, pelos transtornos digestivos e outros efeitos secundários que provocam.  
Nos últimos anos redescrobriu-se o valor dos remédios naturais, e a medicina volta a fazer um uso cada vez maior das plantas curativas. Foi possível comprovar que, embora o seu efeito possa parecer mais lento, os resultados são melhores a longo prazo, especialmente em doenças crónicas. A medicina e a botânica têm estado sempre intimamente unidas, ainda que, durante uma certa época, a química farmacêutica tenha gozado de maior protagonismo. 
Certamente que a medicina actual não pode prescindir de alguns dos potentes fármacos de síntese química. Contudo, devem-se usar com cautela, reservando-os para os casos mais agudos ou difíceis, pois em certas ocasiões, embora proporcionem um alívio imediato, não curam a doença e além disso, têm importantes efeitos secundários.
As plantas podem ser usadas essencialmente como prevenção, uma vez que se uma pessoa tiver como hábito o uso da enorme diversidade de plantas que existem na natureza e que muitas vezes passam despercebidas, pode evitar a manifestação de uma possível doença, devido aos princípios activos que os vegetais possuem.
Diz um aforismo grego: " Primeiro a palavra, depois a planta e em último caso, a faca!". Alguns medicamentos de síntese química são "facas" que poderiam evitar-se utilizando sabiamente a palavra (psicoterapia) ou as plantas medicinais (fitoterapia). Esta última, é a fitoterapia científica baseada em conhecimentos na área da Biologia, sendo aplicada por  profissionais especializados e que possuam conhecimentos científicos e empíricos, resultando num aumento da qualidade de vida.
 

Diferenças entre plantas e medicamentos

Medicamentos à base de substâncias purificadas
Plantas medicinais
Absorção – Limitada em casos de substâncias químicas inorgânicas ou minerais.
Absorção – Os princípios activos das plantas absorvem-se em geral com maior facilidade que os seus equivalentes inorgânicos, obtidos por síntese química. Isto deve-se ao facto de que tratar de moléculas orgânicas e que por isso, atravessam mais facilmente a mucosa intestinal.
Dose de princípio activo – Conhecida com exactidão.
Dose de princípio activo – Apresenta diferenças segundo a variedade, o terreno e a época de colheita.
Acção terapêutica – Depende de uma substância química pura
Acção terapêutica – Depende da combinação de todas as substâncias activas da planta, que se reforçam ou equilibram mutuamente. O conjunto da planta torna-se mais activo do que os seus componentes em separado.
Rapidez de acção – Maior que a das plantas, mas com o risco de possível aumento de sintomas depois de ter passado o efeito do medicamento ou de resistência a médio e longo prazo.
Rapidez de acção – Acção mais lenta mas mais persistente e sem efeito de resistências.
Efeitos secundários e tóxicos – Podem ser importantes e, não completamente conhecidos até que tenham sido usados durante vários anos.
Efeitos secundários e tóxicos – Na maior parte das plantas não existem ou são pouco importantes, por ser muito baixa a concentração de princípios activos.
Risco de criar dependência – É maior quanto mais purificada ou tratada quimicamente tiver sido a substância activa. É o caso da morfina que se torna muito mais perigosa que o ópio (substância natural).
Risco de criar dependência – A planta em estado natural, mesmo no caso das estupefacientes, é menos perigosa do que o princípio activo purificado. As plantas sedativas suaves não criam dependência, ao contrário dos tranquilizantes químicos.

Adaptado de: ROGER, Jorge D. Pamplona, (1996), "A Saúde pelas Plantas Medicinais" - Enciclopédia de Educação e Saúde, Vol. 1, Editoral Safeliz