Blogue no âmbito da área curricular não disciplinar Área de Projecto, construído pelas alunas Ana Rita Vieira, Liliana Ramalho, Tânia Figueiredo e Vanessa Martins do 12º C da Escola Secundária c/ 3º ciclo de Albergaria-a-Velha.



19 de abril de 2011

Métodos convencionais para melhorar agricultura alteram mais as plantas do que a engenharia genética

Métodos convencionais usados para melhorar a agricultura provocam mais alterações nas plantas do que a engenharia genética, indica um estudo de investigadores portugueses publicado na revista norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

O trabalho poderá ter impacto nas metodologias utilizadas para a avaliação da segurança alimentar de novos alimentos. No caso estudado, o da melhoria da planta do arroz, o número de genes alterados por irradiação de sementes com raios gama (mutagénese), uma técnica usada em agricultura convencional desde o início do século passado, foi pelo menos duas vezes maior do que quando utilizada a engenharia genética. 

Neste estudo  participaram investigadores do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA) e do Instituto de Tecnologia Química e Biológica da Universidade Nova de Lisboa (ITQB-UNL).

"Achámos que seria de todo o interesse avaliar a dimensão das potenciais alterações imprevisíveis provocadas por algumas das técnicas habitualmente utilizadas para a produção de novos alimentos", disse à agência Lusa um dos autores, Rita Batista, investigadora no Departamento de Alimentação e Nutrição do INSA.

O trabalho "teve como objectivo primordial tentar perceber se a avaliação diferencial da segurança alimentar de alimentos obtidos por mutagénese em comparação com a engenharia genética tem qualquer sentido" - explicou. Ou seja, "se as alterações imprevisíveis sofridas por uma dada planta/alimento durante o processo de mutagénese são inferiores às sofridas por utilização da engenharia genética".

Contrariamente à engenharia genética, em que se introduz um único gene para promover uma determinada característica, na mutagénese o objectivo é originar alterações aleatórias na planta alvo de forma a escolher, na descendência, as plantas que contenham as melhores características em termos agronómico-alimentares. 

Investigadores utilizaram a técnica de "microarrays"
No entanto, apesar de na mutagénese se fazer recurso a técnicas aparentemente arriscadas, como a utilização de radiação gama, os produtos resultantes não são tratados como OGM (organismos geneticamente modificados) e têm sido prontamente aceites, sem suscitarem qualquer tipo de preocupação.

Os investigadores utilizaram a técnica de "microarrays" para avaliar de que modo a inserção de um gene novo afecta a expressão dos restantes genes de uma planta de arroz e compararam o resultado obtido com o efeito da mutagénese.

"Verificámos que, nas plantas estudadas, o número de genes cuja expressão foi alterada foi pelo menos duas vezes maior para o caso das plantas mutadas com radiação gama do que para o caso das plantas transgénicas" - afirmou Rita Batista. Em síntese, o que estudo sugere é que a avaliação da segurança alimentar de plantas melhoradas seja efectuada caso a caso e não se restrinja só às plantas obtidas por engenharia genética.

"Quando pesamos os prós e os contras de uma nova tecnologia é importante sermos rigorosos na avaliação das diferenças em relação ao que já existe" - sublinha a investigadora. Esta investigação, financiada pelo INSA, foi realizada durante três anos - do crescimento de várias linhas de arroz ao processamento das amostras e análise dos resultados - no âmbito do doutoramento desta investigadora no ITQB-UNL, concluído no mês passado, em estreita colaboração com este instituto.
Fonte:http://www.cienciahoje.pt/34