Blogue no âmbito da área curricular não disciplinar Área de Projecto, construído pelas alunas Ana Rita Vieira, Liliana Ramalho, Tânia Figueiredo e Vanessa Martins do 12º C da Escola Secundária c/ 3º ciclo de Albergaria-a-Velha.



15 de abril de 2011

Planta de São Tomé é remédio contra a malária

Planta de São Tomé é remédio contra a malária
Investigadores portugueses estudaram planta usada por um curandeiro e verificaram que ela é eficaz. A equipa desenvolveu um extracto fácil de preparar para uso no país. 


Pôpô - assim o tratam os vizinhos, em São Tomé - tem a farmácia no quintal. É ali que cultiva as flores e plantas que utiliza para curar febres, dores de barriga e outros males que afligem quem o procura. Mas também vai muitas vezes buscá-las ao mato.
Pôpô tem 83 anos, é curandeiro e foi ele quem falou a Maria do Céu Madureira, que há 20 anos estuda as plantas medicinais de São Tomé e Príncipe, de uma flor chamada girassol-macho. Usa-a contra a malária, mascada ou em infusão. E o certo é que os doentes melhoram.
"É uma flor amarela, muito bonita e abundante na ilha", diz a investigadora. O girassol-macho (Tithonia diversifolia), foi uma das 13 plantas que a sua equipa estudou no âmbito de um projecto para identificar plantas medicinais anti-maláricas em São Tomé. No final, analisadas as moléculas activas de cada uma delas e também a sua toxicidade, foi justamente a Thitonia diversifolia que se revelou a mais eficaz e a mais segura, com a vantagem de ser activa nas duas fases da doença: a hepática e a sanguínea. Ou seja, também é preventiva. E tudo isto era uma novidade científica.
Para a investigadora, Pôpô é o senhor Pontes. Ou Sum Pontes, como se diz lá. " Hoje é um amigo", assegura.
Sum Pontes era o único dos 50 curandeiros com quem a equipa tem trabalhado nas duas últimas décadas, que usava esta planta contra a malária. "Quando lhe perguntámos porque motivo o fazia, ele respondeu: "porque é amarga". Amarga, como é amargo quinino, provavelmente. "Talvez seja um saber antigo, de curandeiros mais velhos", sugere Maria do Céu Madureira.
Para os investigadores, o passo seguinte era desenvolver uma forma fácil e barata, ou seja, acessível aos são-tomenses, de utilizá-la com a maior eficácia possível. Afinal esse era um dos objectivos explícitos do projecto. "Conseguimos produzir um preparado muito simples e acessível, utilizando um solvente orgânico, que contém 30 por cento do composto activo da planta", conta a investigadora do Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz.
Em São Tomé, a malária atinge 60 a 70 por cento da população e a quase totalidade (97 por cento em São Tomé e 60 a 70 por cento no Príncipe) é resistente à cloroquina, o medicamento mais barato contra doença e o único que ali é acessível. Isso mostra a importância do trabalho da equipa portuguesa, que comunicou sempre os seus resultados aos técnicos do ministério da saúde do país.
Passar à prática, isto é, produzir esse extracto medicinal em São Tomé, está agora dependente de uma decisão das autoridades, adianta a investigadora. "Em 2008, quando obtivemos os resultados finais, falei com o ministro da saúde, que se mostrou muito receptivo. Havia a ideia de aproveitar um edifício vazio do hospital para produzir ali o extracto". As coisas não avançaram e entretanto o governo mudou. Maria do Céu Madureira, que todos os anos vai a São Tomé falar com os curandeiros, explorar novos recantos das ilhas e recolher mais plantas, já voltou à carga. "Em Setembro falei com a nova ministra da saúde, que ficou muito interessada, vamos ver".
Contado assim parece tudo imediato, mas este foi um trabalho de muitos anos, que vai continuar. "São estudos para uma vida", assegura a investigadora.
A etnofarmacologia, o que Maria do Céu Madureira e os seus colaboradores fazem, exige isso mesmo: tempo. Tempo para ganhar a confiança dos curandeiros, para colher plantas e aprender a conhecê-las, para as estudar no laboratório, para anotar o receituário tradicional e para trocar conhecimentos. "Para lhes dar depois informação sobre o que descobrimos". É assim que a investigadora entende o seu trabalho: como uma permuta.


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